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A revolta dos acomodados

Caso Isabela Nardoni, caso Richthofen, caso Marcos Kitano (ou caso Yoki), e mais recentemente o caso do menino Joaquim. O Furacão Katrina, o último grande terremoto que assolou o Haiti, o tsunami japonês. O que toda essa variedade de fatos tem em comum?

Todos os acontecimentos citados chamaram (e muito) a atenção das pessoas, em parte pela raridade dos acontecimentos, já que tragédias como estas não ocorrem todos os dias. Mas o fato para o qual atento é o seguinte: Depois de toda a comoção popular, com o passar das reportagens, discussões acaloradas e afins, o que foi gerado de efetivamente útil?

O que me incomoda é o seguinte: A curto prazo são inúmeras as iniciativas para prover assistência as vítimas (o que é ótimo), mas com o decorrer do tempo eles caem no esquecimento: Na África, América Latina e no Haiti muitos morrem na mesma proporção ou até em quantidades maiores de que em catástrofes naturais como as citadas acima, a diferença é que tal situação mais se assemelha a uma hemorragia lenta, e por conta disso não chamam tanta atenção quanto um incidente de menores proporções em um país desenvolvido (o qual não deixa de ser triste, mas que acaba tornando-se prioridade frente a fatos alarmantes como estes, que passam desapercebidos pela maioria das pessoas).

Meu incômodo não para por ai, pois também me entristeço não só com os desastres naturais, mas também com as manchetes policiais e tudo que eles mostram. Estes crimes sempre geram revolta na maioria das pessoas que as testemunham, porém esta é uma revolta que acaba não gerando mudanças, uma indignação falsa que só serve para satisfazer o senso de justiça dos expectadores, a qual não gera mudanças concretas para o nosso cotidiano. Me responda uma pergunta: Quem precisa de mobilização popular pra ser preso, as “celebridades dos programas policiais” ou os políticos corruptos? Apesar de toda a indignação que estes crimes geram (e com motivos), diariamente muita gente morre ou passa a vida sofrendo por conta de doenças que não matam mas muito fazem sofrer, as quais são resultado da omissão não só das autoridades, mas também das massas que não se importam! São poucos os que se dispõem a cobrar as autoridades,e são poucos os que se dispõem a arregaçar as mangas e tomar uma iniciativa, até mesmo de um mero gesto de colaboração financeira muitos se abstém! Criticar e condenar os assassinos celebridade sem tirar o traseiro do sofá é relativamente simples: basta bater a mão na mesa, destilar discursos inflamados, despertar aquele senso adormecido de justiça, posar de dono da razão, julgar-se inocente e puro ao se comparar com esse tipo de gente, e a vida segue…

Ao passo de que nos revoltamos com o que aconteceu com o menino Joaquim, a menina Isabela, a família Richtofen (o que não é errado), e tantos outros, não nos mobilizamos em favor de muitos anônimos, os quais agonizam e morrem todos os dias, sucumbindo diante da criminalidade, da pobreza, da injustiça, as quais e existem e(ou) são potencializadas graças a falta de oportunidades, a desigualdade e tantas outras condições degradantes que são fruto da omissão de governantes que permanecem impunes não só por causa da legislação frouxa ou da corrupção sistêmica que domina o planalto central (da qual fazemos questão de falar e frisamos sempre), mas também resultam de nossa omissão, pois ao mesmo tempo em que muitos batem no peito orgulhosos afirmando que “odeiam a política”, que “abominam a corrupção”, que “são diferentes dessa corja”, não enxergam que a corrupção também é fruto de sua própria inoperância, do seu egoísmo, da sua omissão.

E com uma condescendência criminosa convivemos com todos esses problemas sem ao menos nos importar nem que seja o mínimo com esse tipo de gente, e a indiferença reina junto a hipocrisia.

 

 

“E o que assinala e caracteriza os servos do Diabo, neste nosso inquieto mundo, não é especificamente a maldade: é a indiferença.”

 

Mário Quintana

 

“Deixar-se entorpecer nos processos lentos, que destroem vidas, consegue ser ainda mais cruel do que o mal perpetrado.”

 

Ricardo Gondim

 

Minha intenção com esse texto não foi a de condenar, mas sim alertar para duas coisas: A primeira é: Ainda que seja em pequenas proporções, podemos ser propagadores da bondade, do amor e da justiça, pra que aos poucos todo o mal sistêmico perpetrado no mundo seja atenuado, persistindo na esperança de que algum dia a soma de todos os bons gestos (por mais pequenos que sejam) façam a diferença. E a segunda e mais importante: Deixar claro que não há nenhum justo sobre a face da terra, e que carecemos de salvação tanto quanto um haitiano vítima da cólera ou um somaliano vítima da guerra civil. Querendo ou não a indiferença, a hipocrisia e o egoísmo (dentre tantas outras coisas) são males que residem em todo o ser humano.

Ninguém é perfeito, e reconhecer isso é o primeiro passo para encontrar salvação. Isso vale pra todo e qualquer ser humano.

 

Na busca pela verdade

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